quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Black Sabbath "As três macaras do terror"







Terry "Geezer" Butler viu este filme. Numa bela tarde dos psicodélicos anos sessenta, notou um cartaz publicitário de "I Tre volti della paura", ou "Black Sabbath", como seria chamado na Terra da Rainha. Neste cartaz, Boris Karloff cavalga alucinado, carregando uma cabeça decepada.

"- Se eles ganham dinheiro fazendo filmes que assustam as pessoas, nós ganharemos fazendo músicas que assustam as pessoas!".

Então Gezzer Butler mudou o nome de sua banda de Earth
para Black Sabbath
. Formava-se então uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.

Black Sabbath: As Três Máscaras do Terror” é uma coleção de três contos que se tornaram clássicos do cinema de horror. O primeiro, "O Telefone" (The Telephone), conta a história de uma bela mulher que é ameaçada de morte pelo telefone. No episódio seguinte, "O Wordulak" (The Wordulak), uma família aguarda o retorno do patriarca, que enfim volta ao lar, porém contaminado por um vampiro. No último episódio, chamado "A Gota d'água" (The Drop of Water), o fantasma de uma condessa retorna do além para cobrar um anel roubado durante o preparativo para seu funeral.
O cinema italiano revisitou o gênero horror, ao construir, na década de 50/60, as diretrizes de um novo universo, repleto de sofisticação visual, forjado em cores berrantes e ambientado em uma atmosfera barroca regada pelo sobrenatural e pelas forças ocultas.

Mario Bava foi o primeiro grande expoente deste movimento. Mais do que isso, Bava foi o responsável pela concepção de uma variante do gênero que se chamaria Giallo. Para quem não sabe, "Amarelo" (Giallo, em italiano), é uma espécie de thriller que derivou dos livretos de suspense e mistério (em especial os escritos por Edgar Wallace), cujas capas eram amarelas (assim como o cinema Noir, preto em francês, vem dos livros policiais cujas capas eram negras). Nos Giallo de Bava e Dario Argento alguns elementos se tornariam marca registrada, como o assassino em série mascarado, sempre impiedoso, qual vemos apenas seus passos e suas mãos armada com instrumentos cortantes.








O segmento "O Telefone" é um genuíno Giallo. Repleto de detalhes, que sufocam o expectador, assim como sufoca a vítima, uma bela prostituta chamada Rosi. Um enredo simples, que se resume a uma noite em que a jovem recebe várias ligações a ameaçando de morte. Com medo de ficar só, Rosi convida sua ex-amante Mary para dormir em sua casa. A trama polêmica culmina num terrível assassinato. Ciúmes, libido e morte. O expectador mais atento vai notar ainda uma influência direta deste conto na seqüência inicial do horror teen de Wes Craven, “Pânico”. Adaptado por F. G. Snyder, inspirado levemente numa história de Guy de Maupassant, o episódio traz no elenco as belas Michèle Mercier como Rosy e Lidia Alfonsi como Mary. Ousou ainda em apresentar cenas de nudez feminina em pleno início dos anos 60. As peladonas se tornariam também marca registrada nas produções de horror italianas da próxima década.


A brilhante união entre dois monstros sagrados do cinema de horror, Boris Karloff e Mario Bava, resultou no segundo conto, "O Wurdulak". Este é o mais longo dos segmentos. É uma história de vampiros, onde Gorka (Karloff), um camponês russo é transformado em um Wurdulak (um tipo de vampiro que suga apenas o sangue das pessoas que ama) e ameaça toda sua família. A fotografia repleta de cores vivas, as sombras e formas "expressionistas", a direção de arte e os cenários, tudo perfeitamente entrelaçado numa verdadeira obra-prima de horror. Tudo isso ainda estrelado pelo veterano Karloff. Destaque para a sinistra seqüência em que o "garotinho", já transformado, grita pela mãe. Excelente adaptação do conto escrito pelo russo Aleksei Tolstoy (primo de Leon Tolstoy).

A trama do último episódio, escrito por Ivan Chekhov, bem que poderia ser o roteiro de um filme de terror Japonês. Apesar da simplicidade do enredo, onde um espírito se vinga de uma enfermeira que lhe roubou uma jóia, "A Gota d'água"
é o mais aterrorizante dos três segmentos. E o terror é resultado da soma de pequenos detalhes, como os estranhos ângulos da câmera, o som sufocante da "gota d'água", a mosca, a iluminação deficiente e a trilha sonora perturbadora. Mais uma prova da maestria e do brilhantismo de Bava.


O título original italiano “I Tre Volti de La Paura” poderia ser traduzido como "As Três Faces do Medo". São três contos, três faces, três máscaras do terror. A primeira máscara, em "O Telefone" é a sexualidade, que acaba motivando a violência e o assassinato. A segunda, em "O Wurdulak", é a família corrompida por um membro contaminado. A terceira máscara, em "A Gota d'água" é a loucura, a perda da capacidade de distinguir o real do pesadelo.

Alguns trabalhos de Mario Bava estão disponíveis em DVD por aqui. Dentro do gênero horror/fantástico, além de “
Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror”, foram lançados o ótimo "A Máscara de Satã" (1960, pela Works), com Barbara Steele e o psicodélico "Hércules no Centro da Terra" (1961, pela Classic Line), com Christopher Lee e Reg Park.

A versão de "
Black Sabbath: As três Máscaras do Terror" lançada pela Works aqui no Brasil é a original, italiana. Os distribuidores americanos, na época em que o filme foi lançado nos EUA, inverteram a ordem dos contos, mudaram a trilha sonora, deceparam o filme conseguindo transformar uma obra-prima em um filme medíocre (parecem que são experts nisso, não?).


Juno



Por Pedro Camacho


Os americanos conseguem fazer uma comédia romântica da lista telefônica. Vejam o caso de Juno, vencedor do Oscar de roteiro original de 2008, o filme é basicamente uma comédia moderninha que tem de fundo temas como gravidez na adolescência, aborto e adoção. Coloque uma trilha sonora de bandas descoladas em cima disso tudo e pronto. Depois é só esperar pelos votos da academia.


Escrito pela ex-stripper Diablo Cody, o filme não disfarça que é na verdade um conto de fadas. Afinal alguém que já foi uma striper com certeza sabe fantasiar. Na vida real se sua filha menor de idade aparecesse grávida, o mínimo que se espera, é que pratos sejam quebrados, ameaças sejam feitas e ao menos duas ou três viaturas da polícia sejam envolvidas. Nada disso acontece no filme. E não importa em que mundinho de faz-de-conta a roteirista viva, solteiros ou recém divorciados nunca receberiam permissão da justiça americana para adotar uma criança. Nem no Brasil maravilha seria possível.


Dirigido sem muito esforço por Jason Reitman, o mesmo do enganador, Thank You, For Smoking (Obrigado Por Fumar), Juno tem vários furos no roteiro alguns intencionais outros por omissão, o que reforça a estranha superficialidade da película. A idéia parece ser tornar os assuntos tratados no filme, em algo tão trivial e corriqueiro como escovar os dentes. Tipo, só na cabeça de uma ex-stripper mesmo.


Para piorar as coisas, Juno é desse tipo de filme que a cada seqüência é introduzida por uma nova canção na trilha sonora. Sem falar nas inúmeras referências musicais presentes no roteiro moderninho. Bandas como Iggy Pop & The stooges, The Runaways, Sonic Youth e Melvins, por exemplo, são citadas nominalmente. Tudo só para mostrar o quão moderninha e descolada é a protagonista Ellen Page, que é a melhor coisa do filme. Já o pai da criança, Michael Cera, de Arrest Development repete, basicamente, seu antigo papel na série. Quer dizer, ao menos sua interpretação é idêntica.


No final das contas, Juno talvez seja a mais improvável comédia romântica de todos os tempos. Mas isso não é necessariamente um mérito. Parece mais uma concessão mercadológica de alguém que quer agradar conservadores e liberais, com um filme com potencial para ofender ambos.

Encerrando ciclos - por Glória Hurtado

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver... Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passadoos momentos da vida que já se acabaram... Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntandopor que isso aconteceu... Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó... Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: Teus amigos, Teus filhos, Teus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado... Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará... Não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e diauma ligação com quem já foi embora e não tem a menor possibilidade de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora... Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem... Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora, soltar, desprender-se... Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que compreendam seu amor... Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais... Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal". Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará! Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa. Lembre-se que nada ou ninguém é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos, não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem você é... Esta é a vida!