Terry "Geezer" Butler viu este filme. Numa bela tarde dos psicodélicos anos sessenta, notou um cartaz publicitário de "I Tre volti della paura", ou "Black Sabbath", como seria chamado na Terra da Rainha. Neste cartaz, Boris Karloff cavalga alucinado, carregando uma cabeça decepada. "- Se eles ganham dinheiro fazendo filmes que assustam as pessoas, nós ganharemos fazendo músicas que assustam as pessoas!". Então Gezzer Butler mudou o nome de sua banda de Earth para Black Sabbath. Formava-se então uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. “Black Sabbath: As Três Máscaras do Terror” é uma coleção de três contos que se tornaram clássicos do cinema de horror. O primeiro, "O Telefone" (The Telephone), conta a história de uma bela mulher que é ameaçada de morte pelo telefone. No episódio seguinte, "O Wordulak" (The Wordulak), uma família aguarda o retorno do patriarca, que enfim volta ao lar, porém contaminado por um vampiro. No último episódio, chamado "A Gota d'água" (The Drop of Water), o fantasma de uma condessa retorna do além para cobrar um anel roubado durante o preparativo para seu funeral. O cinema italiano revisitou o gênero horror, ao construir, na década de 50/60, as diretrizes de um novo universo, repleto de sofisticação visual, forjado em cores berrantes e ambientado em uma atmosfera barroca regada pelo sobrenatural e pelas forças ocultas. |
Mario Bava foi o primeiro grande expoente deste movimento. Mais do que isso, Bava foi o responsável pela concepção de uma variante do gênero que se chamaria Giallo. Para quem não sabe, "Amarelo" (Giallo, em italiano), é uma espécie de thriller que derivou dos livretos de suspense e mistério (em especial os escritos por Edgar Wallace), cujas capas eram amarelas (assim como o cinema Noir, preto em francês, vem dos livros policiais cujas capas eram negras). Nos Giallo de Bava e Dario Argento alguns elementos se tornariam marca registrada, como o assassino em série mascarado, sempre impiedoso, qual vemos apenas seus passos e suas mãos armada com instrumentos cortantes.
O segmento "O Telefone" é um genuíno Giallo. Repleto de detalhes, que sufocam o expectador, assim como sufoca a vítima, uma bela prostituta chamada Rosi. Um enredo simples, que se resume a uma noite em que a jovem recebe várias ligações a ameaçando de morte. Com medo de ficar só, Rosi convida sua ex-amante Mary para dormir em sua casa. A trama polêmica culmina num terrível assassinato. Ciúmes, libido e morte. O expectador mais atento vai notar ainda uma influência direta deste conto na seqüência inicial do horror teen de Wes Craven, “Pânico”. Adaptado por F. G. Snyder, inspirado levemente numa história de Guy de Maupassant, o episódio traz no elenco as belas Michèle Mercier como Rosy e Lidia Alfonsi como Mary. Ousou ainda em apresentar cenas de nudez feminina em pleno início dos anos 60. As peladonas se tornariam também marca registrada nas produções de horror italianas da próxima década. |
A brilhante união entre dois monstros sagrados do cinema de horror, Boris Karloff e Mario Bava, resultou no segundo conto, "O Wurdulak". Este é o mais longo dos segmentos. É uma história de vampiros, onde Gorka (Karloff), um camponês russo é transformado em um Wurdulak (um tipo de vampiro que suga apenas o sangue das pessoas que ama) e ameaça toda sua família. A fotografia repleta de cores vivas, as sombras e formas "expressionistas", a direção de arte e os cenários, tudo perfeitamente entrelaçado numa verdadeira obra-prima de horror. Tudo isso ainda estrelado pelo veterano Karloff. Destaque para a sinistra seqüência em que o "garotinho", já transformado, grita pela mãe. Excelente adaptação do conto escrito pelo russo Aleksei Tolstoy (primo de Leon Tolstoy).
A trama do último episódio, escrito por Ivan Chekhov, bem que poderia ser o roteiro de um filme de terror Japonês. Apesar da simplicidade do enredo, onde um espírito se vinga de uma enfermeira que lhe roubou uma jóia, "A Gota d'água" é o mais aterrorizante dos três segmentos. E o terror é resultado da soma de pequenos detalhes, como os estranhos ângulos da câmera, o som sufocante da "gota d'água", a mosca, a iluminação deficiente e a trilha sonora perturbadora. Mais uma prova da maestria e do brilhantismo de Bava.
O título original italiano “I Tre Volti de La Paura” poderia ser traduzido como "As Três Faces do Medo". São três contos, três faces, três máscaras do terror. A primeira máscara, em "O Telefone" é a sexualidade, que acaba motivando a violência e o assassinato. A segunda, em "O Wurdulak", é a família corrompida por um membro contaminado. A terceira máscara, em "A Gota d'água" é a loucura, a perda da capacidade de distinguir o real do pesadelo.
Alguns trabalhos de Mario Bava estão disponíveis em DVD por aqui. Dentro do gênero horror/fantástico, além de “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror”, foram lançados o ótimo "A Máscara de Satã" (1960, pela Works), com Barbara Steele e o psicodélico "Hércules no Centro da Terra" (1961, pela Classic Line), com Christopher Lee e Reg Park.
A versão de "Black Sabbath: As três Máscaras do Terror" lançada pela Works aqui no Brasil é a original, italiana. Os distribuidores americanos, na época em que o filme foi lançado nos EUA, inverteram a ordem dos contos, mudaram a trilha sonora, deceparam o filme conseguindo transformar uma obra-prima em um filme medíocre (parecem que são experts nisso, não?).
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